segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A Negação da Morte

Lendo o livro "Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu, vi que ele faz referência ao livro: "A negação da Morte", de Ernest Becker. Achei muito interessante, realmente, este tipo de loucura foi bem retratada pelo autor, pena que muitas pessoas não se dão conta disso.
"Os homens são tão necessariamente loucos que, não ser louco, seria uma outra forma de loucura. Necessariamente porque o dualismo existencial torna sua situação impossível, um dilema torturante. Loucos porque tudo que o homem faz em seu mundo simbólico é tentar negar e superar sua sorte grotesca. Literalmente entrega-se a um esquecimento cego através de jogos sociais, truque psicológicos, preocupações pessoais tão distantes da realidade de sua condição que são formas de loucura - loucura assumida, loucura compartilhada, loucura disfarçada e dignificada, mas de qualquer maneira loucura."

Ernest Becker, em A Negação da Morte.

sábado, 4 de outubro de 2008

A arte de iniciar um texto


Fiz um post no Leituras &Releituras sobre os erros mais comuns em redações e lembrei-me que os alunos sentem dificuldade em começar um texto. Para que o texto desperte a atenção do leitor já se deve começar com estilo, e isso exige um trabalho mental de busca e a consciência de se saber aonde você quer chegar, durante o trajeto entre a letra maiúscula do parágrafo de abertura e o definitivo ponto final. Por essas e outras, sou admiradora daqueles que dominam o ofício de pegar o leitor por um bom início e fisgá-lo pelas palavras impactantes. É o caso, por exemplo, do escritor português Miguel Esteves Cardoso. Além de ter redigido um dos melhores começos de romances de todos os tempos, ainda batizou sua obra com um nome sensacional: “O Amor é Fodido”. Confiram o seu parágrafo de abertura:

“Quanto mais vou sabendo de ti, mais gostaria que ainda estivesses viva. Só dois ou três minutos: o suficiente para te matar. Merecias uma morte violenta. Se eu soubesse, não te tinha deixado suicidar com aquelas mariquices todas. Aposto que não sentiste quase nada. Não está certo. Eu não morri e sofri mais do que tu. Devias ter sofrido. Porque eras má. Eu pensava que não. Enganaste-me. Alguma vez pensaste no que isso representou na minha vida miserável? Agora apetece-me assassinar-te de verdade. É indecente que já estejas morta”.

Não é um parágrafo de causar inveja? Claro que não somos escritores, mas outro dia a Rosana Hermann, apresentadora de TV e blogueira , resgatou em seu Twitter o primeiro post que escreveu na vida. Rosana iniciou seu blog em 19 de dezembro de 2000, em grande estilo:

“Depois de inúmeras pesquisas em campo, especialmente santo, descobrimos que morrer é a pior coisa que pode acontecer na vida. Realmente, a morte é o fim da picada. Por isso, preparei meu próprio epitáfio, para que eu possa realmente descansar em paz, sem ficar preocupada que algum idiota vai redigir um texto sob o qual terei que repousar eternamente. Convenhamos, para quem passou a vida dedicando-se ao texto, nada poderia ser mais desagradável do que ter um outro autor assinando sua derradeira obra. Assim, aviso a todos que, quando eu for encontrar com a grama pela raiz, que por favor, escrevam sobre a minha lápide este último desabafo: -Era SÓ o que me FALTAVA."

"As boas opiniões não têm valor. Depende de quem as têm." Kraus, Karl

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

São Bernardo, de Graciliano Ramos: A interpretação segundo Umberto Eco

No entendimento de Umberto Eco a interpretação ocorre sempre que respeitamos a coerência de um texto, ou seja, quando temos em vista o mundo possível de um texto e o léxico de uma época. O uso, por sua vez, dá-se quando tomamos o texto da forma a mais livre possível, ampliando o universo do discurso. O uso da interpretação são duas formas igualmente válidas de aproximação de um texto. O que importa, ressalta Eco, é saber distingui-las. Se o uso de um texto é ilimitado, a sua interpretação não o é. Para demonstrar essa tese, Eco analisa a clássica oposição entre a interpretação como busca da intentio auctoris (o que o autor quis dizer), e a interpretação como atribuição de uma intentio lectoris (o que, no texto, o destinatário encontra com relação ao seu próprio sistema de significação). O limite da interpretação é dado, em primeiro lugar, pela idéia segundo a qual um texto é um todo coerente. Com efeito, ao interpretar um texto o leitor extrai certa porção do mesmo, porção que será confirmada ou rejeitada pelas demais porções do texto. Em outras palavras, a interpretação de uma parte do texto é validada se ela funciona para todo o texto. Neste sentido, conforme assinala Eco, reconhecer a intentio operis é perceber uma espécie de estratégia semiótica. “Como provar uma conjectura acerca da intentio operis? A única maneira é verificá-la a partir do texto enquanto conjunto coerente. Também esta idéia é uma idéia antiga e vem-nos de Agostinho (De doctrina christiana): qualquer interpretação dada
de certa parte de um texto poderá ser admitida se confirmada por — e deverá ser rejeitada se for contrariada por — uma outra parte do mesmo texto. Neste sentido a coerência textual interna controla as derivas de outro modo incontroláveis do leitor”. Mas o ato interpretativo, além de considerar o texto como um todo orgânico, leva em conta também as condições de produção desse texto. Afinal, quando um amigo nos escreve uma carta, por exemplo, não podemos deixar de nos interessar por suas intenções, portanto, por aquilo que o autor empírico quis dizer. O mesmo não ocorre quando o texto é endereçado não a alguém em particular, mas a um universo imenso de leitores.
Em literatura sabendo justificar o que se interpreta quase toda leitura é válida, mas eu faço a seguinte leitura: Acho que é um romance de tese, no qual Ramos queria mostrar o mal causado pelo Capitalismo (Honório) às pessoas. Por outro lado, Madalena seria o Socialismo (o genial é o ponto no qual Honório nunca conseguiu de fato compreender a mulher). É um livro muito bom. Mesmo com a comparação ao Dom Casmurro (acho inevitável, já que há toda a idéia de um memorial, incluindo o ciúmes e afins), ainda assim é um destaque na literatura brasileira, ao meu ver. Acho que já comentei por aqui, mas tem vezes que gosto mais de São Bernardo do que de Angústia. Se extrapolei nos limites da interpretação podem discordar.
Resumo e análise no site abaixo:

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

"1001 Coisas para se fazer enquanto estou viva”.

Estive pensando naquelas listas para se fazer antes de morrer: Plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro, ler aqueles 100 livros maravilhosos, ouvir aqueles 100 discos sensacionais, assistir aos 500 filmes magníficos (esqueci algum?), alguém podia fazer uma lista menos mórbida -- quem sabe as "1001 coisas para se fazer enquanto estou viva”.

1. Plantar flores e esperar que elas floresçam
2. Participar de trilhas de jipe ou moto
3. Dirigir seu carro ouvindo a sua música
4- Comer cachorro quente de barraquinha
5- Happy hour em dia de semana
6- Tomar café da manhã na padaria
7- Ir ao cinema de tarde
8- Participar das festas de aniversário, formatura e casamento da sua família.
9- Andar sozinho e descalço na praia
10- Namorar até de madrugada
11- Construir ou reformar a sua casa
12- Assistir uma ópera em Londres
13- Ler aquele livro esperado
14- Fazer uma poupança e comprar o que "der na telha"
15- Ir a uma reserva florestal e ouvir o som da natureza
Como o título trata das 1001 coisas, acho que cada um poderia ir acrescentando a essa lista as coisas gostosas para nós fazermos enquanto estamos vivos.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Butch Cassidy and The Sundance Kid

Baseado na vida real de dois lendários assaltantes que viveram no final do século XIX, "Butch Cassidy" é um cativante faroeste. Realizado pelo cineasta George Roy Hill, o filme apresenta uma ótima história, diálogos inteligentes, um bom ritmo, uma excelente fotografia, alguns momentos de humor e magníficas atuações dos dois principais líderes.
A direção de Roy Hill é consistentemente de alto nível. O carisma e a presença de cena de Paul Newman e Robert Redford, além da forma como os dois interagem, sem dúvida alguma contribuem para o sucesso obtido pelo filme.
Pela primeira vez esta música: Raindrops keep falling on my head, interpretada por B.J. Thomaz, foi usada no cinema nessa cena fantástica!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

MR. BEAN é o melhor


Ator, escritor, diretor e produtor, o britânico Rowan Atkinson tornou-se mundialmente famoso ao criar a série ''Mr. Bean''. Embora Atkinson tenha estreado no cinema em 1977, no filme ''Monty Python Meets Beyond the Fringe'', o personagem Bean só surgiu em 1989. O programa foi um sucesso imediato, permanecendo no ar com episódios inéditos durante seis anos. Em cada um, Atkinson/Bean não fala uma só palavra e assim mesmo arranca gargalhadas a partir das confusões em que o personagem se envolve em cenas do dia-a-dia.
Alguns vídeos que eu adoro:


Mr. Bean - Goodnight Mr.Bean

Mr. Bean goes to the swimming pool


Mr. Bean - Rowan Atkinson - Elementary Dating DUBLADO!


MR BEAN IN TOILET

domingo, 28 de setembro de 2008

2001: A Space Odyssey with Pink Floyd - One Of These Days


Montagem muito interessante da seqüência final de 2001 do Kubrick com One of these days, do Pink Floyd.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sorôco, sua mãe, sua filha


"Agora, mesmo, a gente só escutava era o acorçôo do canto, das duas, aquela chirimia, que avocava: que era um constado de enormes diversidades desta vida, que podiam doer na gente, sem jurisprudência de motivo nem lugar, nenhum, mas pelo antes, pelo depois”.
João Guimarães Rosa - Sorôco, sua mãe, sua filha

Esta semana, trabalhei com minha turma do terceiro ano do ensino médio, o conto "Sorôco, sua mãe, sua filha", de Guimarães Rosa. Quando estava preparando a aula, já decidi: este conto eu não poderei ler oralmente, pois faz parte de uma série de contos que me deixam muito emocionada. Sendo assim, prefiro evitar sua leitura. Minha voz começa a sumir e de repente vem às lágrimas. Meus alunos já sabem que a grande literatura tem esse poder sobre as pessoas e espero que um dia cada um deles experimente algo parecido.
Nem preciso dizer que este é um dos meus contos favoritos. E gosto dele porque obriga o leitor a (re) valorizar a sensibilidade. Ficar indiferente à canção das duas loucas é simplesmente abandonar o que de mais humano cada um de nós tem. Era necessário que duas "transtornadas pobrezinhas", rumando pra lugar distante (e lição deixada por quem parte é sempre mais significativa), recuperassem um poderoso sentimento de solidariedade e compaixão com o outro - "A gente estava levando agora o Sorôco para a casa dele de verdade. A gente, com ele, ia até onde que ia aquela cantiga".
Todos os dias tenho vontade de "me esquisitar", tal como fez o abrutalhado Sorôco e continuar uma canção sem sentido aparente...
Se quiser ler o conto completo, acesse o link abaixo:

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Os Maias, de Eça de Queiroz


Obra prima do realismo na literatura portuguesa e síntese do talento inovador de Eça de Queiroz, “Os Maias” é o retrato de uma sociedade em busca de sua afirmação. Nesta saga de uma família rica de Lisboa do século XIX, seus personagens vivem as aspirações, os conflitos e as paixões que refletem as forças transformadoras da sociedade em Portugal e no mundo, nessa época. A ironia, o sentimentalismo e a crítica mordaz são algumas das características que os estudiosos identificam como componentes fundamentais da grandiosidade literária de Eça de Queiroz. Grandiosidade que se completa na criação de seus personagens e na construção novelística, e que o aproximam de grandes autores, como Zola e Balzac, na descrição comovente e dramática da vida e da sociedade de seu tempo.
Enredo:
Pedro da Maia casa-se contra a vontade do pai com Maria Monforte, mulher muito bela, a deusa loira, olhos azuis , encarnação de mármore, rompendo as relações familiares. Essa personagem fraca, produto da educação tradicional portuguesa apresenta melancolia nervosa depois da morte da mãe e pode ser considerada o modelo do herói romântico. Todavia, o maior erro de Pedro é o de levar, para dentro da própria casa, o príncipe napolitano, ferido por ele numa caçada. Convalescendo em contato com Maria Monforte e tornando-se íntimo da família, nasce entre eles paixão arrasadora. A desmedida começa a intensificar-se ao nível do trágico, no momento em que Pedro, deseperançado, vai ao Ramalhete, levando o filho bebê, informar ao pai do ocorrido e suicida-se covardemente, porque Monforte abandona-o para lançar-se à vida com um aventureiro. Maria Monforte abandona o lar, o marido, o filho. Dessa maneira, a ocorrência que provoca a confusão de identidade torna-se possível: o incesto é a conseqüência deste ato de Maria Monforte. O adultério põe em xeque a identidade da família, pois, além de fugir do marido e abandonar o filho, ela trai a filha, enganado-a e não lhe revelando a sua verdadeira identidade. Maria Monforte é rejeitada por Afonso da Maia por não ter ascendência nobre, não ter título e ser filha de traficante de escravos. Ela irá defender-se ou vingar-se dessa rejeição. Abandonando o marido, provoca-lhe o suicídio e a ruína da família Maia. Dá primazia ao amor, recusa a riqueza e a nobreza de Pedro, chega ao extremo de viver em estado deplorável e penurioso, mas em tempo algum dirige-se aos Maias para pedir ajuda ou proteção. Afonso exerce o papel de pai do neto Carlos, com participação muito mais ativa. Cuida da educação com presteza na tentativa de reparar o dano anterior. Afonso não usa da franqueza para com o neto e conta falsa história sobre os pais do mesmo. Acredita-se que a maior desmedida de Afonso é a de dar por vencida a busca à neta, quando Alencar descobre que a filha da Monforte está morta e não atenta para o fato de que Maria pudesse ter tido outra filha, além de Maria Eduarda. A procura persistente de Afonso pela neta não teve bons resultados, decorrente do mal entendido motivado pelas informações dadas por Alencar a Vilaça de que a neta de Afonso havia morrido. Afonso concorre para a confusão de identidade dos netos ao desistir de encontrar Maria Monforte e Maria Eduarda. Ele opta por deixar no plano do ignorado a desconhecida condição da mãe e da filha, edificando história na enganosa conjectura de que ambas estão mortas e que não é necessário comentar mais o assunto. Mas, o velho Afonso morre tragicamente, na mais completa solidão interior quando descobre a tragédia. Desencantado, desiludido, desiste e a desistência realiza-se na morte. A morte de Afonso é a consumição de Carlos. Maria Eduarda, depois de muita privação e miséria, passa a viver com um brasileiro rico, Castro Gomes, tendo um forte sentido de autoridade moral e honra, pois não hesita em penhorar jóias e não aceitar o dinheiro que Castro Gomes lhe manda do Brasil, a partir do momento em que se envolve com Carlos da Maia. Maria Eduarda não conta a Carlos que Castro Gomes não é seu marido, nem pai de Rosa e que apenas é sustentada por ele. Quando descobre que ela é sua irmã, acaba cometendo o incesto voluntário e provocando a morte do avô. Mesmo conhecendo a circunstância da relação, Carlos não tem resolução e firmeza o suficiente para revelar tudo à Maria e romper a ligação incestuosa. Um embaraço, bem como uma atração lasciva o envolve. No entanto, a atração converte- se, logo depois, em repugnância pela mulher que sabe do seu sangue. A intensidade da queda de Carlos é acentuada porque, não obstante a educação inglesa recebida, que tem como objetivo desenvolver a aplicação correta da razão para julgar ou raciocinar em cada caso, o controle de si próprio, assim como a autocrítica, ele torna-se vítima do destino e do amor Apesar da instrução exemplar que Afonso oferece a Carlos, as falhas e os enganos cometidos por ele são excessivos. Carlos falha na profissão e nos projetos sociais, quando se deixa levar pela falta de ânimo. Falha, igualmente, no amor, inicialmente pela volubilidade amorosa, depois porque só separa-se de Maria quando em relação a ela sente um “indizível horror dum nojo físico”. No penúltimo capítulo, a fatalidade paira sobre a felicidade de Maria Eduarda. Ega vai à Rua de São Francisco facultar a revelação da terrível verdade. Ele diz que ela é uma parenta muito chegada de Carlos e entrega-lhe todos os papéis que pertenceram à mãe, Maria Monforte, inclusive a declaração de maternidade e paternidade. Ela lê e compreende a realidade atroz. Na partida para Paris, na estação de Santa Apolônia, a imagem negra e lúgubre de Maria Eduarda que “vinha toda envolta numa grande peliça escura" estabelece oposição com o brilho intenso e suntuosidade da primeira aparição: “com passo soberano de deusa, maravilhosamente bem feita, deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de ouro e um aroma no ar”
A Rede Globo produziu a minisérie em 2001, escrita por Maria Adelaide Amaral e João Emanuel Carneiro, unindo tramas e elementos de outro romance de Eça, A Relíquia, e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, elenco: Ana Paula Arosio , Fabio Assunção, Walmor Chagas, Leonardo Vieira, Simone Spoladore, Eva Wilma, Selton Mello.
Aqui, neste endereço, uma série de vídeos da minisérie da Globo.

Os Maias, capítulo I

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
QUEIRÓS, Eça de. Obra Completa. Organização geral, introdução, fixação dos textos