quinta-feira, 23 de outubro de 2008

ARIANO SUASSUNA - O AUTO DA COMPADECIDA -


O texto propõe-se como um auto, sendo considerado uma modalidade do teatro medieval, cujo tema é basicamente religioso. A primeira intenção do texto está em moldá-lo dentro de um enquadramento do teatro medieval português. O texto propõe-se como resultado de uma pesquisa sobre a tradição oral dos romanceiros e narrativa nordestinas, fixados ou não em termos de literatura de cordel. Propõe, portanto, um enfoque regionalista.
O texto do Auto da Compadecida se insere nas preocupações gerais desse estilo de época, deflagrado a partir de 1922, com a Semana de Arte Moderna, em São Paulo. Um modelo característico dessa síntese se encontra em Macunaíma, de Mário de Andrade, de 1927, e em Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa (1956), entre outros.

A ESTRUTURA
A - Personagens. A peça apresenta quinze personagens de cena e uma personagem de ligação e comando do espetáculo.
PRINCIPAL: João Grilo
OUTRAS: Chicó, Padre João, Sacristão, Padeiro, Mulher do Padeiro, Bispo, Cangaceiro, o Encourado, Manuel, A Compadecida, Antônio Morais, Frade, Severino do Aracaju, Demônio.
LIGAÇÃO: Palhaço
As personagens são colocadas em primeiro lugar na análise da estrutura da peça porque elas assumem uma posição simbólica, e é desse simbolismo que deriva a importância do texto.
· João Grilo é a personagem principal porque atua como criador de todas as situações da peça.· As demais personagens compõem o quadro de cada situação.
· O Palhaço, representando o Autor, liga o circo à representação do Auto da Compadecida.
JOÃO GRILO. A dimensão de sua importância surge logo no início da peça quando as personagens são apresentadas ao público pelo Palhaço. Apenas duas personagens se dirigem ao público. Uma, a chamado do Palhaço, a atriz que vai representar a Compadecida, e João Grilo.
"PALHAÇO: Auto da Compadecia! Umas história altamente moral e um apelo à misericórdia.JOÃO GRILO: Ele diz "à misericórdia", porque sabe que, se fôssemos julgados pela justiça, toda a nação seria condenada" (p.24).
SITUAÇÃO/ PERSONAGENS/ CONTEÚDO DA SITUAÇÃO
PALHAÇO: "Ao escrever esta peça, onde combate o mundanismo, praga de sua igreja, o autor quis ser representado por um palhaço, para indicar que sabe, mais do que ninguém, que sua lama é um velho catre, cheio de insensatez e de solércia. Ele não tinha o direito de tocar nesse tema, mas ousou fazê-lo, baseado no espírito popular de sua gente, porque acredita que esse povo sofre, é um povo e tem direito a certas intimidades" (p.23-24).
"Espero que todos os presente aproveitem os ensinamentos desta peça e reformem suas vidas, se bem que eu tenho certeza de que todos os que estão aqui são uns verdadeiros santos, praticantes da virtude, do amor a Deus e ao próximo, sem maldade, sem mesquinhez, incapazes de julgar e de falar mal dos outros, generosos, sem avareza, ótimos patrões, excelentes empregados, sóbrios, castos e pacientes" (p.137).A intenção moral, ou moralidade da peça, fica muito clara, desde que se torne claro, também, que essa intenção vincula-se a uma linha de pensamento religioso, e da Igreja Católica.

NOTA: Adaptado da análise do livro Vestibular-76 (1976), da Editora O Lutador-MG, edição dirigida aos exames vestibulares da UFMG.
O Filme:
Título Original: O Auto da Compadecida
Matheus Nachtergaele interpreta João Grilo, o nordestino sabido, que luta pelo pão de cada dia, e atravessa vários episódios enganando a todos, ao lado de Chicó (Selton Mello), seu companheiro de estrada. Descritos como personagens picarescos pelo diretor Guel Arraes, João Grilo e Chicó são os protagonistas desta história.

Cena do Chicó dando uma de Valentão