
Escrevia sobre mulheres e para mulheres: parece mesmo que tinha certa predileção em escrever para este público. Sua obra, de modo geral, encena vários tipos femininos, com histórias povoadas de muitas personagens e situações que mostram as alternativas com que as mulheres se defrontam na vida: assim é com Lívia de Ressurreição, Guiomar de A mão e a luva, Helena, Iaiá Garcia, Virgília e Marcela de Brás Cubas, Sofia de Quincas Borba, Capitu de Dom Casmurro, Flora de Esaú e Jacó, Fidelia e Carmo de Memorial de Aires, além da profusão das protagonistas de inúmeros contos — como “Missa do galo”, “Capítulo dos chapéus”, “Singular ocorrência”, “Uma senhora”, “Trina e una”, “Primas de Sapucaia!”, “Noite de almirante”, “A senhora do Galvão”, “Uns braços”, “D. Paula”, Rita, em “A Cartomante”, que encenam vários tipos femininos e situações com as quais as mulheres se defrontam na vida comum, podendo mesmo ser classificados como Estudo sobre o feminino, ao demonstrarem a sensibilidade de Machado no trato de questões que envolvem moral, ética, preconceito social, autoritarismo, amor, ciúme e adultério.
Suas mulheres ficcionais, orgulhosas ou tímidas, calculistas ou levianas, singelas ou complexas. Machado preocupou-se com o psicológico de maneira muito especial, podemos constatar nos climas, ambientes, situações existenciais sutis e delicadas: as mulheres surgem como personagens de grande densidade psicológica, tornando o enredo de suas obras muito denso, de difícil compreensão. Na maioria dos romances, a mulher é o elemento forte, traz o homem dependente de si, ela é o esteio, a base da relação. Há matriarcas que dominam e comandam propriedades e a família, viúvas que não se casam, em que se percebe que a figura masculina é, por vezes, desnecessária.