sexta-feira, 2 de julho de 2010

Análise do romance Senhora de José de Alencar


Estou trabalhando o Romantismo nos segundos anos do ensino médio e agora chegou o momento de analisar o romance "Senhora", de José de Alencar. Durante os comentários da obra notei que os alunos gostaram muito do estilo urbano de Alencar, bem mais do que os indianistas, por isso achei melhor apresentar-lhes os vídeos do momento da noite de núpcias em que Aurélia revela seu plano de vingança. Os vídeos pertencem à novela "Essas Mulheres", tão bem interpretada por Christine Fernandes, é uma autêntica heroína romântica. José de Alencar foi primoroso em escrever esta cena em seu livro "Senhora". Muito emocionante tanto na leitura como visualmente e os atores da novela realmente a executaram com grande emoção. Vale a pena ler o livro, para quem ainda não teve o privilégio e é amante da boa leitura.       
Análise de alguns excertos do livro Senhora, de José de Alencar
Os fragmentos das questões de I a III são parte do romance “Senhora” , de José de Alencar. O Tema básico do livro é o casamento por interesse e a discutível moral burguesa, que o apóia e incentiva. Com vista à análise literária desse romance feita em aula, julgue os itens que se seguem.

( I ) Senhora

“Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.
Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões.
Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade.
Era rica e formosa.
Duas opulências, que se realçam como a flor em vaso de alabastro; dois esplendores que se refletem, como o raio de sol no prisma do diamante.
(...)
Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D.Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade.
Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação feminina.
Guardando com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse.
Constava também que Aurélia tinha um tutor; mas essa entidade desconhecida, a julgar pelo caráter da pupila, não devia exercer maior influência em sua vontade do que a velha parenta.
A convicção geral era que o futuro da moça dependia exclusivamente de suas inclinações ou de seu capricho; e por isso todas as adorações se iam prostrar aos próprios pés do ídolo”.

1. No fragmento anterior, a personagem é descrita, inicialmente, como inatingível, (“Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela”), distante da realidade, após a sua nomeação, é que ela ganha um aspecto mais real, concreto.  
2. No trecho apresentado, nota-se a crítica de Alencar à sociedade daquela época, que não admitia a emancipação e as moças se faziam acompanhar pelos pais ou parentes.


(II) – Senhora.

Leia o diálogo a seguir.

“- Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com perícia consumada. Podemos ter este orgulho, que os melhores atores não nos excederiam. Mas é tempo de por termo a esta cruel mistificação, com que nos estamos escarnecendo mutuamente, senhor. Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada um ao que é, eu, uma mulher traída: o senhor, um homem vendido.
- Vendido! Exclamou Seixas ferido dentro d’alma.
- Vendido, sim: não tem outro nome. Sou rica, muito rica, sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável ás mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer”.

1. A primeira fala de Aurélia faz menção ao papel teatral que ela e o marido desempenham. Em presença de outros fingem um casamento amoroso. Na intimidade, se digladiam com diálogos ferinos.
2. Nesse trecho, vemos que Seixas reúne as condições morais de um heroi tipicamente romântico: deixa-se comprar; encara o casamento como meio de ascensão social.
3. Inicialmente, o marido se mostra vulnerável; com o passar do tempo, o desprezo de Aurélia torna Seixas forte a ponto de enfrentar a esposa.
4. Em sua Segunda fala, Aurélia expressa um dos valores da família burguesa do século XIX: o casamento é a realização maior da mulher.
5. O narrador não é, necessariamente, um mero observador externo, sem acesso ao que se passa no íntimo dos personagens – Compare com o segundo parágrafo do texto seguinte.

(III) – Senhora.

“-Oh! Ninguém o sabe melhor do que eu, que espécie de amor é esse, que se usa na sociedade e que se compra e vende por uma transação mercantil, chamada casamento!... O outro, aquele que eu sonhei outrora, esse bem sei que não o dá todo o ouro do mundo! Por ele, por um dia, por uma hora dessa bem-aventurança, sacrificaria não só a riqueza, que nada vale, porém minha vida, e creio que minha alma!
Aurélia, no afogo destas palavras que lhe brotavam do seio agitado, retirara a mão do braço de Seixas; ao terminar voltara-se rapidamente para esconder a veemência do afeto que lhe incendiara o olhar e as faces.

Veja a análise deste último texto, relacionada com todo o romance de Senhora:

1. A fala de Aurélia revela a supervalorização do amor, sentimento que lhe parece mais importante que a própria vida.
2. A titulagem das partes de Senhora – verifique no livro - expressa o caráter de transação comercial que o casamento adquire na sociedade da época.
3. No desfecho do romance, Aurélia dá prova de que sacrificou toda a sua riqueza em troca do amor verdadeiro.

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“Muita gente Não teria amado se não tivesse lido livros de amor...”


|Baseado nas atividades do Prof. Saulo

Assista ao vídeo sobre o famoso fragmento da noite das BODAS


2ª parte