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sábado, 7 de março de 2009

Augusto dos Anjos: o poeta do hediondo


Conhecido também por “poeta da morte”, devido a forte presença em suas temáticas, havendo apenas, algumas discordância por parte dos críticos na maneira como cada análise lê esse tema em sua poesia.
Para Alexei Bueno (1994) a morte aparece como uma manifestação do pessimismo, como uma “implacável presença da maior das evidências da vida e do universo.
[...] destruidora paciente e impiedosa de todos os esforços e devaneios humanos” (in:ANJOS,1966, p. 23).

Lúcia Helena (1977), discordando da idéia de “obsessão”, defende que a morte é apenas mais um dos vários temas que fazem parte de seu universo temático, que ora aparece de maneira materialista, ora mais filosófica.
As características formais da maioria da obra de Augusto dos Anjos aproximam-no do Parnasianismo, pois quase tudo o que escreveu, o fez em versos decassílabos. Alguns destes versos são compostos por apenas duas palavras. Sua técnica foi apurada e escolheu recursos de esmero e cuidado, como se pode ler no soneto “O poeta do Hediondo”.


Sofro aceleradíssimas pancadas
No coração. Ataca-me a existência
A mortificadora coalescência
Das desgraças humanas congregadas!

Em alucinatórias cavalgadas,
Eu sinto, então, sondando-me a consciência
A ultra-inquisitorial clarividência
De todas as neuronas acordadas!

Quanto me dói no cérebro esta sonda!
Ah Certamente eu sou a mais hedionda
Generalização do Desconforto...

Eu sou aquele que ficou sozinho
Cantando sobre os ossos do caminho
A poesia de tudo quanto é morto!

Ivan Cavalcanti Proença (1980, p. 14) apresenta como incidências recorrentes na obra de Augusto dos Anjos as seguintes linhas temáticas e características:
_ rudeza materialista X lirismo espiritual;
_ ânsia de comunicação em monólogos de um solitário;
_ inquietação filosófica;
_ temática da morte;
_ musicalidade e sonoridade;
_ hermetismo e cientificismo.
Seguem esta linha pessimista os fragmentos citados abaixo. Primeiro aquele que está na última estrofe de “O poeta do hediondo”, e que está também em sua lápide e em "Vozes de um Túmulo":

Morri! E a Terra - a mãe comum - o brilho,
Destes meus olhos apagou!... Assim
Tântalo, aos reais convivas, num festim
Serviu as carnes do seu próprio filho!

[...] (“Vozes de um túmulo”) (ANJOS, 1994, p.330)

Classificar Augustos dos Anjos em um estilo literário daria muita polêmica, pois escrevou na forma parnasiana, usando temas filosóficos, passando pelo realismo em seu vocabulário cientificista, e passeando pelo romantismo em seu pessimismo , mas vivendo em um momento de transição para o modernismo.

Fonte:
BUENO, Alexei (org.). Augusto dos Anjos. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
HELENA, Lúcia. A Cosmoagonia de Augusto dos Anjos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1977.
PROENÇA, Ivan Cavalcanti. O poeta do eu: um estudo sobre Augusto dos Anjos. 3.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

EU


Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo amigo é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

Por Augusto dos Anjos

Hoje eu trabalhei esta poesia no terceiro ano e os alunos ficaram impressionados com a linguagem e o pessimismo do poeta. Realmente, é o mais original dos poetas brasileiros, mas foi ignorado pela crítica do começo do século XX. Se alguma exceção se abriu, foi para caracterizá-lo de autor de versos estapafúrdios e aberrantes. Autor de um só livro publicado em vida. É certamente, o precursor da moderna poesia brasileira. Conta Francisco de Assis Barbosa, que em novembro de 1914, Orris Soares e Heitor Lima encontraram-se com Bilac e o informaram do prematuro falecimento de Augusto." E quem é esse Augusto?", perguntou Bilac. Um grande poeta, responderam-lhe, e Heitor Lima recitou o soneto "Versos a um Coveiro", Bilac sorriu superiormente e comentou:" Fez bem em morrer, não se perde grande coisa".


Bilac não viveu o bastante para perceber que se enganara.Na terceira edição de "EU", em 1928, venderam-se 5500 exemplares em dois meses, os primeiros 3000, em apenas 15 dias.