domingo, 6 de julho de 2008

AUTO DA LUSITÂNIA

Auto da Lusitânia é uma peça escrita por Gil Vicente em 1531 e representada pela primeira vez em 1532, na corte de D. João III, rei de Portugal, por ocasião do nascimento de seu filho, o rei D. Manuel.
Fragmento:(linguagem original - 1532)

Entra hum cortesão e diz:
Cor: Vosso pae he ca, senhora?
Led: Que lhe
quereis vós dizer?
Cor: Pregunto a vossa mercê.
Led: Per hi sahio elle
fóra
A arrecadar não sei que.

Quereis-lhe algua coisa?
Havei-lo
mister, senhor?
Cor: Tem elle muito lavor?
Led: De ventura não repoisa
Nem sossega o peccador.
Cor: Vossa mãe he tambem fora?
Led: Mas em
cima está cosendo
E eu ando isto fazendo.
Cor: Não devia tal senhora
Como vós andar varrendo,

Senão enfiar aljofre
E perlas orientaes,
Não sei como isto se sofre.
Led: Minha mãe tem no seu cofre
Duas
voltas de coraes.
Cor: Senhora, sam cortesão,
E da linhagem d’Eneas,
E por vossa inclinação
Folgára de ser d’Abrahão
O sangue de minhas
veas.

Mas vosso e não de ninguém
He tudo o que está comigo,
E
quero-vos grande bem.
Led: Bem vos queira Deos amen:
Quereis outra
coisa, amigo?

Cor: Temo muito que me leixe
Vosso amor pobre coitado
De favor com quem me queixe.
Led: Lançae na sisa do peixe,
E logo
sois remediado.
Cor: Não falo, senhora, disso,
Por que eu me queimo e
arco
Com dores de coração.
Led: Muitas vezes tenho eu isso:
Diz
MestrAires que he do baça.
E reina mais no verão.

Cor: Mas, senhora,
por amar
Fiz minha sorte sugeita,
E perdi a mais andar.
Led: Crede,
senhor, que o jogar
Poicas vezes aproveita
Dom Senegal Saborido,
Que
tinha tanta fazenda,
Por jogar está perdido,
Que não tem o dolorido
Nem que compre nem que venda.

Cor: Ó doce frol antre espinhas,
Crede o amor sem mudança
Que vos tenho e que vos digo.
Led: Assi
huas primas minhas
E toda esta vezinhança
Todos tem amor comigo:
Dom
Isagaha Barabanel
E Rabi Abram Zacuto,
O Donegal Coronel,
E Dona
Luna de Cosiel,
E todos me querem muito.

Cor: Senhora, por piadade
Que entendais minha rezão;
Entendei minha verdade,
Entendei minha
vontade,
E mudareis a tenção:
Entendei bem minha dor,
E mil maleitas
quartans,
Que por vós hão de me matar
Led: Assi he meu pae, senhor,
Que tem dored d’almorrans,
Que he coisa de apiadar.


Como produção de texto, pedi aos alunos do primeiro C (noturno), ensino médio, que transpusessem o fragmento para os dias atuais. Escolhi uma produção que gostei muito. Leiam e comprovem:


Orotides: Oi! Como vai você?

Você está muito linda,

Eu não resisti, você parece uma rosa azul

Seu sorriso brilha mais que um diamante.

Márcia: Realmente o dia está lindo.

Parece uma rosa se abrindo.

Orotides: Então, você gostaria de um passeio?

Quem sabe na praça? Podemos tomar um sorvete.

Márcia: Bem que eu queria, mas estou gripada amigo.

Orotides: Tenho muito que te falar, coisas lindas de verdade.

o que eu te mostrarei é a realidade.

Márcia: É devo concordar que a realidade às vezes é difícil.

Orotides: Você já vem com pedras na mão,

perto de você acende o meu pobre coração.

Márcia: Agora eu vou confessar,

um segredo a você,

meu pai também anda com esta dor no coração.

Orotides: Quando te vejo o sangue ferve,

parece que vou explodir.

E para os seus pais eu vou te pedir.

Márcia: Deve ser pressão alta,

às vezes sentimos algo estranho,

melhor ver o que é...

Orotides: Você é uma bela flor

Entre espinhos e é linda de se apreciar.

Márcia: Há, como eu queria que a minha vida

Fosse um mar de rosas, mas só encontro espinhos.

Cada coisa que me aparece...


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