terça-feira, 4 de março de 2008

NEGRINHA


É uma narrativa em terceira pessoa, impregnada de uma carga emocional muito forte. Sem dúvida alguma é um conto invejável. É interessante considerar aqui alguns pontos: a obra narra às condições subumanas em que a menina era obrigada a viver. Sua temática transcende vários conflitos humanos: uma criança criada como um bicho-gente, uma patroa má que descarrega suas mágoas na menina, a conseqüência de uma abolição fictícia. O tema da caridade azeda e má, que cria infortúnio para os dela protegidos, um dos temas recorrentes de Monteiro Lobato; outro aspecto que poderia ser observado é o fenômeno da epifania, a revelação que, inesperadamente, atinge os seres, mostrando-lhes o mundo e seu esplendor. A partir daí, tais criaturas sucumbem, tal qual Negrinha o fez. Ter estado anos a fio a desconhecer o riso e a graça da existência, sentada ao pé da patroa má, das criaturas perversas, nos cantos da cozinha ou da sala, deram a Negrinha a condição de bicho-gente que suportava beliscões e palavrórios, mas a partir do instante em que a boneca aparece, sua vida muda. É a epifania que se realiza, mostrando-lhe o mundo do riso e das brincadeiras infantis das quais Negrinha poderia fazer parte, se não houvesse a perversidade das criaturas. É aí que adoece e morre, preferindo ausentar-se do mundo a continuar seus dias sem esperança.
"Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças."
Tendo sido selecionado por Ítalo Moriconi e consta de "Os cem melhores contos brasileiros do século", editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2000, pág. 78 .

Ler o conto completo acessando o link abaixo:
http://intervox.nce.ufrj.br/~valdenit/lobato.htm

Um comentário:

Rodrigo Fernandes disse...

Oi, Mirian... vc me fez reaviver minha infância agora, heheh... lembro de ter lido esse livro fantástico do Monteiro Lobato qdo criança no colégio, confesso que só fui entende-lo anos mais tarde, já que o li mais por causa da obrigação... na verdade teria que reler muitos dos grandes livros que são considerados clássicos e importantes no mundo literário agora, anos mais tarde de ter feito suas leituras, até porque o fato de você ler obrigado, como forma apenas de obter nota para passar de ano é complicado e não faz a criança perceber o real valor dessas obras.. é uma pena o metódo de ensino ser dessa forma...
Beijos