É bom reler bons livros e lembrar das lições que aprendemos com eles. Hoje, por causa de uma frase colocada no MSN de alguém muito especial, fui levada à uma viagem no tempo. Leia o trecho do livro, bem no momento em que o pequeno príncipe encontra a raposa e irá entender a beleza destas palavras:
"_ Que quer dizer cativar?
_É algo quase sempre esquecido, significa criar laços... criar laços? É, se tu me cativas teremos necessidade um do outro, serás para mim único no mundo. Se tu me cativas minha vida será como cheia de sol...os teus passos me chamarão para fora da toca, como se fosse música... A GENTE SÓ CONHECE BEM AS COISAS QUE CATIVOU...
- Que é preciso fazer?
- É preciso ser paciente. Cada dia te sentarás um pouco mais perto...E assim, se tu vens às 4 da tarde, desde às 3 começarei a ser feliz, as 4, então, estarei inquieta e agitada, descobrirei o preço da felicidade...Eis o meu segredo, só se vê bem com o coração: o essencial é invisível aos olhos... Foi o tempo que perdeste com "as tuas rosas" que as fizeram tão importantes...os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer, tu te tornas ETERNAMENTE responsável por aquilo que cativas..."
Em segundo lugar, me dei conta de que o trecho pertencia ao livro O Pequeno Príncipe, parte do diálogo entre o Príncipe e a raposa e resolvi lê-lo novamente.
Achei a obra completa
aqui . É curtinho, mas cheio de lições preciosas que precisam ser entendidas nas entrelinhas do texto, que parece ser pra crianças, mas não é. Cada personagem tem algo a nos ensinar, então vou compartilhar
aqui.
O Pequeno Príncipe
“Quando a gente acaba a toalete da manhã, começa a fazer com cuidado a toalete do planeta.”
Perplexo com as contradições dos adultos, o pequeno príncipe simboliza a esperança, o amor e a força inocente da infância que habita o nosso inconsciente.
Extraordinário e misterioso, ele vive em um planeta muito pequeno. Lá, um dia, apareceu uma flor.
O Piloto
“As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas.”
Foi desencorajado, aos seis anos, pelos adultos que não reconheceram a sua sensibilidade artística e a sua capacidade de ver além das aparências. Mas anos depois, longe de todos, desenha a sua própria história.O piloto é a prova de que nunca é tarde para irmos atrás dos nossos sonhos.
A Rosa
“É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas”....
Ela começou a crescer, parecia vir do nada.
Ficou horas se arrumando e ajeitando suas pétalas...
E é linda!
Mas também orgulhosa, caprichosa e contraditória.O pequeno príncipe apaixona-se e vive para atender aos seus caprichos:
um lanchinho, o para-vento, uma redoma.
Mas ela nunca está satisfeita e o nosso herói decide partir
Embora pareça contraditória, entre caprichos e sabedoria, a rosa é extremamente feminina e sedutora.
Por isso, cativa o coração do principezinho.
O Rei
"É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar"
É o primeiro dos “donos do mundo” que o pequeno príncipe encontra nas galáxias. O rei pensa que tudo e todos são seus súditos e tem necessidade de controlá-los. Mas, com sabedoria, nos ensina que cada um só pode dar aquilo que tem.
O Vaidoso
"Mas o vaidoso não ouviu. Os vaidosos só ouvem elogios."
O vaidoso precisa da admiração de todos para comprovar o seu valor.
Ele nos faz lembrar que precisamos reconhecer nossos próprios talentos e capacidades, e não depender de elogios dos outros para nos auto-afirmar.
O Bêbado “– Por que é que bebes?
– Para esquecer.
– Esquecer o quê?
– Esquecer que eu tenho vergonha.
– Vergonha de quê?
– Vergonha de beber!”
O bêbado tenta escapar da realidade por meio do álcool, mas não consegue escapar da vergonha de ser como é. O seu desabafo é um alerta contra todos os vícios.
O Homem de negócios
"– E de que te serve possuir as estrelas?– Serve-me para ser rico. –E para que te serve ser rico?– Para comprar outras estrelas, se alguém achar. Esse aí, disse o principezinho para si mesmo, raciocina um pouco como o bêbado."
O homem de negócios está tão ocupado contando o que acumulou que não pode desfrutar da vida. O pequeno príncipe nos faz ver que isso também é um vício.É preciso valorizar quem você é, e não o que você tem.
O Acendedor de Lampiões
"Aí é que está o drama! O planeta de ano em ano gira mais depressa, e o regulamento não muda!"
Um bom homem cumpre o seu dever. Mas como ele mesmo diz, " É possível ser fiel e preguiçoso..."O universo está em constante evolução. O homem, as crenças e as relações humanas também. Mas o acendedor de lampiões não tem o bom senso de questionar as ordens e trabalha sem parar, mesmo sabendo que não vai chegar a lugar algum.
O Geógrafo
"É muito raro um oceano secar, é raro uma montanha se mover...."
O geógrafo sabe toda a teoria, mas não aplica seus conhecimentos. Nunca sai da sua mesa para explorar as descobertas. Como um bom burocrata, declara que isso é trabalho de outra pessoa.É ele quem recomenda ao pequeno príncipe que visite o planeta Terra. E deixa o principezinho abalado quando lhe conta que sua flor é efêmera...
A Jibóia
"‘Por que é que um chapéu faria medo? ’[...] Desenhei então o interior da jibóia, para que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações."
A jibóia desenhada pelo piloto quando criança é o ícone que nos ensina a ver além das aparências.
O astrônomo turco "Mas ninguém lhe dera crédito por causa das roupas que usava. As pessoas grandes são assim."Os adultos, especialmente os sofisticados materialistas, julgam pelas aparências. Por isso, o astrônomo turco é desprezado pela comunidade científica até aparecer em elegantes roupas ocidentais
A Raposa:
“Tu te tornas eternamente responsávelpor aquilo que cativas.”
A sábia raposa ensina o pequeno príncipe a compartilhar. E explica-lhe que, apesar de existirem milhares de flores parecidas, a dele é única, e foi o tempo que ele dedicou a ela que a fez tão importante.
Cativar quer dizer conquistar e requer responsabilidade. Responsabilidade por um amor, por um amigo, pelo talento que possuímos e pelo que conquistamos em nossa carreira profissional e pessoal.
Seja responsável pelas suas conquistas. Valorize-se. Cuide do que você cativou.
A Serpente
"Mas sou mais poderosa do que o dedo de um rei.”
Embora fale sempre por enigmas, é o personagem mais franco de toda a história.Ela respeita o que é puro e verdadeiro.
O Carneiro e a caixa "Desenha um carneiro para mim, por favor.” “Era assim mesmo que eu queria!”.
Nada pode corresponder ao poder da nossa imaginação. Ela supera o conhecimento, pois não tem limites, e nos impulsiona para novas descobertas.
”Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer.”
No livro, a raposa ensina ao Pequeno Príncipe a importante lição de
que as coisas só ganham sentido quando se conhece a amizade. O Pequeno Príncipe compreende que apesar de o mundo ter milhares de rosas, a rosa de seu planeta era única, pois somente ela era mantenedora de seu amor, de seu afeto.
É estranho conceber que o processo de individuação não esteja ligado única e exclusivamente ao próprio sujeito que busca este estágio, mas tornar-se individuo só é possível quando existe o outro. Não é possível ser único, se não for para alguém.
Voltando à lição da raposa, ela diz: “o essencial é invisível aos olhos”. A individualidade se faz nas pequenas coisas, nos detalhes que muitas vezes são esquecidos. É através do afeto direcionado ao objeto que faz com que ele se torne diferente dos demais objetos. Um jeito de sorrir, um pequeno defeito, ou mesmo uma mania apaixonante são os reais responsáveis por que o sujeito possa ser, então, considerado único. Do contrário, sem estes atestados de afeto tão simples e quase imperceptíveis, todo o resto seria desperdiçado e o indivíduo não passaria de mais um entre muitos.
Como diz o Pequeno Príncipe, “o que torna belo o deserto é que ele esconde um poço em algum lugar”. Quando ganhamos um presente, ele carrega o sorriso de quem o deu, a expectativa no desembrulhar. Se fosse somente o presente em si, este não seria nada além de uma casca.
Poucos são os capazes de desfrutar destes pequenos detalhes, a maioria acaba acreditando que estas cascas são o conteúdo que buscam. Nunca encontrarão felicidade, viverão nessa eterna busca que não chega a lugar algum. Mas sobre isso, prefiro que o próprio Pequeno Príncipe dê seu conselho:
“_ Os homens de teu planeta cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... e não encontram o que procuram...”
“_ E, no entanto, o que eles procuram poderia ser encontrado numa só rosa, ou num poço de água.”
“_ Mas os olhos são cegos. É preciso ver com o coração...”
Um fugaz ato, gesto ou palavra, podem alterar por completo o nosso destino e de todos os que nos rodeiam... para o bem ou para o mal.
Assistam o diálogo entre a raposa e o Pequeno Príncipe: