O que tem em Macunaíma que nos remete a atualidade?
Há características de nossa identidade nacional. Mostra quem somos nós e a leitura do livro pode ajudar o aluno a entender o seu próprio comportamento: a questão da identidade brasileira.
Mário de Andrade era um escritor bastante preocupado em buscar nossa identidade. Estudava tudo que se referia ao Brasil e a nossa cultura, as artes, a música, a literatura, os costumes, o folclore, a etnologia e a etnografia. A obra “Macunaíma" foi editada em 1928, e traduz as duas paixões de Mário de Andrade: o amor a São Paulo e o estudo dos costumes do povo brasileiro. Para falar de nossa cultura, ele usou um gênero muito antigo: a Rapsódia, como em Sagarana, de Guimarães Rosa.Um exemplo de rapsódia antiga encontra-se em Ilíada. Homero circulou entre o povo grego e coletou suas histórias, suas lendas e juntou tudo no livro "Ilíada e Odisséia". É interessante perceber essa soma entre o clássico e o moderno. Mário de Andrade era apaixonado pelo Brasil e juntou esses elementos.Para quem lê, parece caótica, mas o que se vê são referências a tudo que se diz sobre o Brasil. Na verdade ele compôs um painel de todas regiões do Brasil. Ele estudou os costumes dos índios, as lendas, o Bumba meu boi, as religiões africanas, um exemplo disso está no próprio significado da palavra indígena macunaíma, que é “o grande mau”. A importância em analisar o livro é o seu aspecto antropológico, sociológico, que sai da literatura. No filme, interpretado por Paulo José e Grande Otelo, mostra algumas características do brasileiro: preguiçoso, sensual, mentiroso, malandro. Macunaíma tem origem indígena, vem da tribo Tapanhumas, uma tribo extremamente negra, ao longo da narrativa ele transforma-se em branco, nascendo a raça brasileira da união das três raças: o português, o índio e o negro. A produção de Joaquim Pedro de Andrade(1969), baseado na obra de Mário de Andrade, é um marco na história do cinema brasileiro. Conseguiu fazer uma crítica social a quase todos os tipos sociais e do Brasil. Principalmente, conseguiu fazer um filme bom que caiu no gosto de pobres e ricos da época. Paulo José fazendo a mãe que pariu Macunaíma, que nasce negro, e depois interpreta a versão do Macunaíma que vira branco só porque saiu da aldeia (pensem no simbolismo que era a fonte que o transforma em branco); do cigarrinho que fazia uma índia (Joana Fomm) vê-lo como um príncipe; dos irmãos igualmente preguiçosos mas menos criativos ao fato de na aldeia eles serem brancos ou negros, sem aparência de índio, a não ser pelo mito de preguiçoso, revelado diversas vezes na fala “Aaaaaii, que preguiça”. Mas olha a singeleza do diretor. Macunaíma criança comendo terra e seu irmão perguntando: “Ta gostoso, coração, ta?”. Na cidade grande, outros tipos são ridicularizados. A mais interessante é Ci, interpretada por Dina Sfat, uma guerrilheira resistente à ditadura, ninfomaníaca e que adora dinheiro. Os duelos de Macunaíma com o gigante Pietro Pietra, representam a dificuldade que os menos abastados têm de subir na vida. Uma das mudanças mais marcantes em relação ao livro de Mário de Andrade, em que o anti-herói se transformava num mito brasileiro. Enfim, creio que a mudança da história do livro para o cinema fora necessária para o diretor se propunha, como na cena da feijoada humana (no filme) em vez da macarronada (no livro) e de Mário não diz onde Macunaíma teria nascido, mas Joaquim mostra exatamente onde. Para o que Andrade queria (e fez) retratar se saiu muito bem. Afinal, “muita saúva e pouca saúde os problemas do Brasil são”.
Trecho do filme "Macunaíma" de Joaquim Pedro, adaptado da obra de Mario de Andrade.
Na cena, Macunaíma (Grande Otelo) nascendo.
Há características de nossa identidade nacional. Mostra quem somos nós e a leitura do livro pode ajudar o aluno a entender o seu próprio comportamento: a questão da identidade brasileira.
Mário de Andrade era um escritor bastante preocupado em buscar nossa identidade. Estudava tudo que se referia ao Brasil e a nossa cultura, as artes, a música, a literatura, os costumes, o folclore, a etnologia e a etnografia. A obra “Macunaíma" foi editada em 1928, e traduz as duas paixões de Mário de Andrade: o amor a São Paulo e o estudo dos costumes do povo brasileiro. Para falar de nossa cultura, ele usou um gênero muito antigo: a Rapsódia, como em Sagarana, de Guimarães Rosa.Um exemplo de rapsódia antiga encontra-se em Ilíada. Homero circulou entre o povo grego e coletou suas histórias, suas lendas e juntou tudo no livro "Ilíada e Odisséia". É interessante perceber essa soma entre o clássico e o moderno. Mário de Andrade era apaixonado pelo Brasil e juntou esses elementos.Para quem lê, parece caótica, mas o que se vê são referências a tudo que se diz sobre o Brasil. Na verdade ele compôs um painel de todas regiões do Brasil. Ele estudou os costumes dos índios, as lendas, o Bumba meu boi, as religiões africanas, um exemplo disso está no próprio significado da palavra indígena macunaíma, que é “o grande mau”. A importância em analisar o livro é o seu aspecto antropológico, sociológico, que sai da literatura. No filme, interpretado por Paulo José e Grande Otelo, mostra algumas características do brasileiro: preguiçoso, sensual, mentiroso, malandro. Macunaíma tem origem indígena, vem da tribo Tapanhumas, uma tribo extremamente negra, ao longo da narrativa ele transforma-se em branco, nascendo a raça brasileira da união das três raças: o português, o índio e o negro. A produção de Joaquim Pedro de Andrade(1969), baseado na obra de Mário de Andrade, é um marco na história do cinema brasileiro. Conseguiu fazer uma crítica social a quase todos os tipos sociais e do Brasil. Principalmente, conseguiu fazer um filme bom que caiu no gosto de pobres e ricos da época. Paulo José fazendo a mãe que pariu Macunaíma, que nasce negro, e depois interpreta a versão do Macunaíma que vira branco só porque saiu da aldeia (pensem no simbolismo que era a fonte que o transforma em branco); do cigarrinho que fazia uma índia (Joana Fomm) vê-lo como um príncipe; dos irmãos igualmente preguiçosos mas menos criativos ao fato de na aldeia eles serem brancos ou negros, sem aparência de índio, a não ser pelo mito de preguiçoso, revelado diversas vezes na fala “Aaaaaii, que preguiça”. Mas olha a singeleza do diretor. Macunaíma criança comendo terra e seu irmão perguntando: “Ta gostoso, coração, ta?”. Na cidade grande, outros tipos são ridicularizados. A mais interessante é Ci, interpretada por Dina Sfat, uma guerrilheira resistente à ditadura, ninfomaníaca e que adora dinheiro. Os duelos de Macunaíma com o gigante Pietro Pietra, representam a dificuldade que os menos abastados têm de subir na vida. Uma das mudanças mais marcantes em relação ao livro de Mário de Andrade, em que o anti-herói se transformava num mito brasileiro. Enfim, creio que a mudança da história do livro para o cinema fora necessária para o diretor se propunha, como na cena da feijoada humana (no filme) em vez da macarronada (no livro) e de Mário não diz onde Macunaíma teria nascido, mas Joaquim mostra exatamente onde. Para o que Andrade queria (e fez) retratar se saiu muito bem. Afinal, “muita saúva e pouca saúde os problemas do Brasil são”.
Trecho do filme "Macunaíma" de Joaquim Pedro, adaptado da obra de Mario de Andrade.
Na cena, Macunaíma (Grande Otelo) nascendo.
3 comentários:
No vestibular que prestei esse ano tinhamos que escolher um personagem da Literatura brasileira e eu escolhi Macunaíma. Um marco...
Beijo!
é engraçado como a gente perde de estar diante de obras tão interessantes qdo somos obrigados a lê-las na epoca do colégio apenas para passar de ano ou obter uma nota melhor na matéria... pois é isso que geralmente acontece.. só depois de anos de ter lido a tal obra que fui aprecia-la.
O filme é muito hilário!!!
beijos
Obrigado pelas palavras, Mirian...
Graças a Deus estou bem e meus irmãos tbm, só chocado com o que ocorreu, enfim... ainda parece que isso não ocorreu...
obrigado pela força!
beijos!!!
Postar um comentário